Capítulo do livro Neerack O Segredo de Kalina

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                                                   BATALHA NA TERRA BRANCA

Por muitas e muitas eras os homens foram lutando entre si, para defenderem seus domínios, suas famílias e sua honra. Eles lutavam por qualquer motivo, como se o ódio e a vingança fossem os únicos sentimentos que fizessem realmente parte do instinto humano, e todos os problemas pudessem ser resolvidos por esses meios.
O que não se compreendia era o fato de alguns desses homens terem a força e poderes extraordinários, sendo comparados a deuses ou demônios poderosos. Esses poderes na verdade eram herdados. Quando uma pessoa morria a energia da vida dada a essa pessoa pela pedra do poder ou herdada de seus antepassados era automaticamente sugada e somada à energia do seu algoz.
Esse mistério ficou como uma interrogação por muitos milhares de anos, até que alguns guerreiros que já haviam recebido muitas cargas de energia dos seus oponentes começaram a raciocinar de forma lógica e a observar com maior cuidado o que acontecia em suas vidas. Foi quando, em uma grande batalha ocorrida em uma província chamada de Feró, localizada no lado sul da grande terra branca, as coisas começaram a mudar. Essa batalha teve início por disputa de terras, onde dois clãs queriam a posse de terras próximas ao leito de um rio. Naquela região a água era um bem muito precioso, sendo chamada de grande terra branca por ser um imenso deserto com areias brancas. Esse deserto formava uma das maiores terras conhecidas naquela época.
Era um local de clima muito seco. Chovia pouco, a vegetação, muito rasteira e, durante o dia, o calor era quase insuportável. Ao contrário, tinha-se noites geladas, com ventos muito fortes que traziam pelo ar um cheiro de sal. Provavelmente, toda aquela areia tinha estado no fundo do oceano há milhares de anos. A força do vento dava a impressão de que o frio era muito maior do que era de fato, mas a terra branca tinha um grande tesouro que por muitas vezes foi motivo de grandes batalhas. Do ponto mais alto da montanha, que ficava nas terras de Ohni, na entrada norte para a terra branca, fluía um enorme rio chamado, Zerenor, que recebia esse nome por nascer no distante cume da montanha Zerer. Esse rio tinha o seu leito em forma de serpente, ziguezagueando, por entre toda a terra branca, como se a costurasse. Com isso, grandes extensões de terra margeavam o rio e, apesar de estar em uma região muito árida, suas margens se tornavam produtivas, o que acirrava mais as disputas pela sua posse.
Na batalha ocorrida em Feró, os dois grupos não abriam mão do local. E a cada momento, a batalha se tornava mais sangrenta. Todos queriam o controle das terras próximas ao rio. Até que um dos homens, um gigante de dois metros e meio de altura, chamado de Clair, que estava encurralado por quatro outros guerreiros, ao tentar se proteger dos vários golpes empregados pelos seus adversários observou ao seu lado uma enorme pedra que poderia usar como escudo, escondendo-se atrás dela. Ao tocar na pedra, a mesma se mexeu como se não tivesse peso. Mesmo sem compreender o que acontecia, ele segurou firme com suas duas mãos e ergueu sem a menor dificuldade, arremessando contra seus adversários, a pedra de aproximadamente umas três toneladas. Nesse momento, todos puderam notar no inicio da batalha aquele homem não possuía tal força e que algo muito estranho tinha ocorrido lá.
Não demorou muito para que um outro guerreiro, após ter decapitado o seu oponente, percebesse que não era mais o mesmo, que sua força estava muito maior, e suas habilidades poderiam ser facilmente comparadas às do seu oponente morto.
A partir desse momento, os comportamentos se transformaram. Nem ali, nem em nenhuma outra batalha se faziam mais prisioneiros, todos os guerreiros passaram a ser vistos pelos seus oponentes como fontes de energia e força, o que transformou a grande terra branca em um imenso mar vermelho-sangue por mil seiscentas e cinqüenta e oito noites, até que um único homem, o ultimo daquele lugar caiu de joelhos sobre a terra, machucado e, apesar de tanta força, exaurido, que nem ele acreditava mais ser vencedor.
São conhecidas poucas passagens da vida desse homem; entretanto, todas elas muito importantes para a nossa história. O que se sabe é que se chamava Zatoom Neerack, tinha os cabelos pretos sobre os ombros, era muito grande e o corpo muito musculoso, como todos os de sua linhagem. Apesar dessa aparência, ele ainda era um jovem guerreiro quando ocorreu a batalha, mas suas feições, devido às intempéries da guerra, eram envelhecidas e muito tristes. Após a batalha, Zatoom perdeu o interesse pela terra, onde tantos derramaram sangue. Deixado tudo para traz dirigiu-se para o Leste nas proximidades da floresta de Clafencar, além das terras de Nevur, onde tempos depois constituiu família. Teve dois filhos gêmeos: Hávem e Tíghur, aos quais transmitiu seus poderes, transformando-os nos responsáveis pelos rumos dessa história.